A História do Património Termal que foi Moldada pelas Águas
Quando se fala nas Caldas da Rainha e no seu Património Termal, o primeiro pensamento vai para as Águas e para a Rainha – génese e essência reflectidos no nome de uma cidade que te oferece uma viagem imperdível ao longo dos séculos, desde a sua fundação, passando pelos tempos áureos do termalismo, através de um rico património termal, concentrado sobretudo no Centro Histórico mas cuja presença se faz sentir por toda a cidade, habituada desde sempre a bem receber, como terás certamente oportunidade de experienciar.
A importância do Património Termal de Caldas da Rainha está também sublinhada com a adesão à European Historic Thermal Towns Association (EHTTA), que compreende 28 cidades históricas termais em toda a Europa, sendo Caldas da Rainha a primeira cidade portuguesa a fazê-lo.
E se a origem das Caldas da Rainha está reunida no seu nome, a verdade é que não se esgota aí . Acompanha-nos numa visita que te dará a conhecer um vasto património ligado à arte e à cultura com vários museus, monumentos e outras atracções, não esquecendo a tão afamada cerâmica e o comércio tradicional que acompanha a ambição dos consumidores mais exigentes.
E tudo isto a cinco minutos de uma das melhores praias do país, a Foz do Arelho, e da Lagoa de Óbidos, o sistema lagunar costeiro mais extenso da costa portuguesa.
Hospital Termal
Da vontade e do excelente sentido de oportunidade da Rainha D. Leonor, que segundo a lenda conheceu as águas das Caldas da Rainha por mero acaso quando terá visto pessoas a banharem-se, viria a nascer um dos primeiros Hospitais Termais do mundo, no final do século XV!
Rainha benemérita, D. Leonor desde logo percebeu os benefícios curativos das Águas, das quais se diz que a própria usufruiu, e criou uma unidade hospitalar assistencial, a pensar sobretudo nos mais necessitados, unicamente baseada em tratamentos termais. Daí a sua singularidade, não podemos esquecer-nos que tudo isto aconteceu no final do século XV, já lá vão mais de 500 anos!
Situado no Largo Rainha D. Leonor, entre os caldenses simplesmente “Largo do Termal”, o Hospital Termal foi totalmente remodelado no século XVIII aquando da passagem de D. João V por Caldas da Rainha para uso das águas.
O Engenheiro Manuel da Maia, foi o responsável pela obra, ele que seria mais tarde um dos obreiros da reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755. Mais tarde, no final do século XIX, o edifício sofreu novas remodelações durante a administração de Rodrigo Berquó, das quais se destaca ao acréscimo do terceiro piso.
O Hospital Termal é uma das mais importantes atrações de cidade e um excelente ponto de partida para qualquer visita, a partir do qual poderás aceder facilmente a todo o centro histórico, repleto de outras atracções, assim como ao comércio tradicional das Caldas da Rainha, cidade também conhecida por ser um centro comercial a céu aberto.
Igreja de Nossa Senhora do Pópulo
Construída inicialmente como capela privada do Hospital Termal, a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo foi elevada a Igreja Matriz, devido ao rápido crescimento das Caldas da Rainha.
Da autoria do Mestre Mateus Fernandes, um dos responsáveis pelas Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha, tem a particularidade da capela-mor ter sido erguida sobre uma das nascentes termais.
Monumento de pequenas dimensões, a Igreja Nossa Senhora do Pópulo revela-se enorme pela conjugação de estilos que abarca, sendo referenciada como um dos primeiros edifícios onde se pode encontrar indícios do estilo Manuelino e pela riqueza de pormenores, quer no interior quer no exterior, todos eles merecedores de uma atenta visita.
Para melhor se perceber o legado da cidade das artes e da cultura, em 1504 a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo foi palco de uma das mais emblemáticas obras de um dos grandes nomes da literatura portuguesa – o Auto de São Martinho de Gil Vicente, de quem a Rainha Dona Leonor, grande impulsionadora das artes e da cultura, era mecenas.
Pavilhões do Parque
Os Pavilhões do Parque, como são habitualmente conhecidos por se situarem no Parque D. Carlos I, foram edificados a partir de 1893, num projecto do arquitecto Rodrigo Berquó, administrador do Hospital Termal e um nome incontornável da história do Património Termal da cidade.
A construção teria como finalidade constituir o futuro Hospital D. Carlos, servindo como área de internamento e de outros serviços da unidade hospitalar já existente e este passaria a ser usada exclusivamente como balneário. No entanto, os Pavilhões do Parque jamais viriam a ser utilizados para cumprir a finalidade da sua construção e, ao longo dos anos, albergaram diversas instituições da cidade.
Representativo do projecto termal que Rodrigo Berquó ambicionava para as termas das Caldas da Rainha, equiparando-a às mais importantes estâncias termais da Europa do final do século XIX, os Pavilhões do Parque foram construídos de frente para o lago do Parque D. Carlos I.
A imagem do edifício reflectida no lago viria a tornar-se um dos cartões de visita mais reconhecidos da cidade, sendo uma das maiores atracções daquela época em Caldas da Rainha com bastante divulgação em fotografias e bilhetes postais a exemplo do Parque D. Carlos I, do Hotel Lisbonense e do Céu de Vidro.
Apesar dos Pavilhões do Parque não albergarem actualmente nenhuma instituição e apresentarem já alguns vestígios da passagem do tempo; a aura de outras épocas, presente na beleza e magnificência que os anos não apagam, merecem uma passagem por este que é um dos mais simbólicos edifícios da cidade.
Céu de Vidro
O Céu de Vidro faz a ligação entre o Largo Rainha D. Leonor (Largo do Termal para os caldenses) e o Parque D. Carlos I, espaços indelevelmente ligados pela história, unidos também por um bonito percurso coberto por uma estrutura de ferro e vidro e ornamentado com um impressionante trabalho de ferro forjado, de que os candeeiros em forma de dragão, são os melhores exemplares.
O Céu de Vidro será por ventura a melhor forma de entrar no Parque D. Carlos I, para quem vem do Hospital Termal.
Local indispensável aos tempos áureos do termalismo caldense, época em que fazia parte do Clube de Recreio, instituição fundada em 1837, e onde a elite balnear local mostrava os seus comportamentos sofisticados, era por isso uma das suas principais atracções.
Actualmente são diversas as actividades de carácter cultural que se desenvolvem no Céu de Vidro, com bastante regularidade.
Quem sabe num dos dias da tua visita à cidade?
Parque D. Carlos I
Idealizado e concebido pelo arquitecto e administrador do Hospital Termal, Rodrigo Berquó, o Parque D. Carlos I surge em substituição do antigo Passeio da Copa, criado em 1799 e faz parte deste grande legado do património termal da cidade. Ali se cumpria uma das premissas para a convalescença dos tratamentos termais, passear e contactar com a natureza.
Entre 1889 e 1891 o Passeio da Copa, foi remodelado e ampliado passando a transformação por várias fases desde o alargamento, à construção do lago artificial e respectiva ilha arborizada e ajardinada, passando depois pelo embelezamento com a plantação de vegetação diversa, pela vedação e policiamento do espaço.
Em 1904 foi instalada a iluminação eléctrica, que rapidamente se transformou numa das atracções nas noites das épocas balneares. Entre inúmeras actividades desportivas, no Parque D. Carlos I também pode ouvir-se música no Coreto e ver-se cinema no Salão Ibéria.
Fascínio verde
O Parque D. Carlos I constitui uma verdadeira mancha de verde na cidade e está para as Caldas da Rainha como o Central Park está para Nova Iorque.
Nele podem ser vistas mais de 70 espécies de flora, assim como uma avifauna diversificada, dos quatro cantos do mundo, bem representativo do cosmopolitismo que se vivia então na estância termal caldense.
Pelo significado que tem no conjunto arquitectónico termal e por se tratar de um espaço de convivência e de passeio, o Parque D. Carlos I é um dos principais pontos de encontro dos caldenses e um dos locais mais visitados da cidade.
É lá que se situa o Museu José Malhoa, espaço museológico de relevo para a história da arte portuguesa, dedicado ao pintor caldense. No Parque, encontramos também a Casa dos Barcos, onde acontecem diversas iniciativas como exposições ou mostras de oleiros a trabalhar ao vivo, assim como o Lago, que no período do Verão disponibiliza barcos a remos a quem quiser mostrar os seus dotes de remador.
Há ainda o Céu de Vidro, o Coreto, os Pavilhões do Parque, um parque de merendas, campos de ténis, muita gente e muita animação, entre tantas outras coisas. Por todos estes motivos, e mais alguns que tu tratarás de acrescentar, o Parque D. Carlos I é paragem obrigatória para quem visita a cidade.
Mata Rainha Dona Leonor
A Mata Rainha Dona Leonor, juntamente com o Parque D. Carlos I, constitui o conjunto de áreas ambientais com que a cidade é privilegiada. É lá que se encontram os importantes recursos aquíferos subterrâneos, de insubstituível valor para as Caldas da Rainha, e cuja necessidade de protecção viriam a ditar a sua construção.
Com o desenvolvimento do termalismo e com a sua associação ao turismo no final do século XIX, a Mata Rainha Dona Leonor foi mais um dos espaços intervencionados por Rodrigo Berquó, embora não de forma tão drástica.
Situada na área envolvente do complexo hospitalar, a construção da Mata Rainha Dona Leonor corresponde a uma estrutura de talhões e varandas, distribuídos por frondosas alamedas, onde se encontra reunido um significativo conjunto de flora e avifauna, tal como acontece no Parque D. Carlos I.
De visita imprescindível para os amantes da Natureza, é obrigatória para todos aqueles que apreciam a harmonia que se cria entre a cidade e a natureza, mostrando que a convivência entre as duas coisas é possível e recomenda-se.
Visita a Mata Rainha Dona Leonor e desfruta de um dos mais tranquilos passeios que a cidade tem para oferecer.
Palácio Real
O Palácio Real alberga hoje o Museu do Hospital e das Caldas que conta a história do Hospital Termal e da cidade das Caldas da Rainha.
No passado aquele imóvel, denominado “Caza Real”, foi habitado pela Rainha D. Leonor, fundadora da instituição hospitalar e da localidade.
Aquando da passagem de D. João V por Caldas da Rainha, em meados do século XVIII, grande parte do património termal foi remodelado com um projecto do arquitecto francês Pierre Joseph Pézerat, que lhe conferiu o estilo clássico passando dai em diante a ser utilizado pela administração hospitalar.
No final do século XIX foi novamente remodelado e ampliado pelo arquitecto e administrador do Hospital Termal, Rodrigo Berquó, passando a designar-se Palácio Real e tendo como finalidade ser um espaço para as cerimónias oficiais da Família Real em solo caldense, quando esta ali se deslocava durante a época balnear.
Depois de 5 de Outubro de 1910, o edifício foi ocupado por diversas entidades públicas até ser requalificado nos anos 90 para ali ser inaugurado o Museu do Hospital e das Caldas.
Situado por trás do Hospital Termal e bem próximo da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, para além da componente museológica que alberga, o Palácio Real destaca-se também pelas suas características arquitectónicas e pelos seus jardins, sendo por isso um ponto turístico que merece uma visita mais atenta.
Acabamos por aqui a nossa crónica, reafirmando que a visita ao nosso Património Termal, uma história com mais de cinco séculos, é algo que tens que fazer! Até já…
Chafarizes
Nas Caldas da Rainha poderás encontrar um conjunto de três Chafarizes, inseridos na reforma da rede de abastecimento de água promovida pelo Rei D. João V, ele próprio um utilizador das águas caldense.
Foi de resto, em sequência dessa passagem de D. João V por Caldas da Rainha, que motivou a reforma do Hospital Termal e fez ainda parte a construção de um Aqueduto, do qual poucos vestígios restam, situado na zona sul da Mata Rainha Dona Leonor.
Os Chafarizes, que fazem jus à importância que a água assumiu enquanto elemento do período barroco, encontram-se em três locais distintos, portanto, para os conhecer tens mesmo que dar um passeio pela cidade.
O Chafariz das Cinco Bicas localiza-se perto do Aqueduto e da Mata Rainha D. Leonor, sendo uma das mais emblemáticas atracções de Caldas da Rainha. Já o Chafariz da Rua Nova fica no Largo D. Manuel I, bem ao lado do Hospital Termal.
Por sua vez o Chafariz da estrada da Foz, localiza-se no início da Rua de Vitorino Fróis, bem perto da “Rainha” (Largo Conde de Fontalva), rotunda assim conhecida por lá se encontrar a estátua de Dona Leonor.
Encontram-se desde 1982 classificados como Imóveis de Interesse Público,o que sustenta a sua importância e em conjunto perfazem um total de sete bicas, numa alusão mitológica às sete filhas de Atlas e da oceânide Plêione (as oceânides eram divindades femininas personificadas por fontes, riachos, cursos de água, que descendiam de Oceano).
São assim as águas das Caldas da Rainha, míticas! Só tens de escolher por onde começar!