José Malhoa o Pintor Caldense
José Malhoa o génio naturalista, mais concretamente José Vital Branco Malhoa… para não haver equívocos com outros Malhoa… foi um pintor naturalista nascido em Caldas da Rainha a 28 de Abril de 1855, mais precisamente na Travessa de São Sebastião, junto à Ermida de São Sebastião, onde de resto um placa imortaliza o edifício onde este genial artista nasceu.
De talento reconhecido tanto em Portugal como além-fronteiras, José Malhoa é por muitos considerado um dos melhores pintores da história da pintura portuguesa… e na nossa isenta, insuspeita e caldense opinião, é claramente o melhor de todos!
Apesar de ser caldense de gema, cedo deixou este maravilhoso cantinho do Oeste rumo a Lisboa, onde ingressaria na Real Academia de Belas Artes de Lisboa em 1867, com 12 anos.
Ao que consta José Malhoa não fez por menos e terá conseguido a proeza de vencer por mais do que uma vez o 1º prémio enquanto frequentou aquela Academia, mostrando a sua fibra de artista … e de caldense diríamos!
Apesar do talento, depois de ver rejeitadas bolsas para prosseguir a sua carreira na pintura, não escondendo a frustração que sentira por não conseguir atingir tais objectivos, em 1875 a sua carreira profissional forçou-lhe outros caminhos, ainda que esse desvio, como diz o ditado, tivesse sido sol de pouca dura!
Como diz o outro ditado quem dá o que tem a mais não é obrigado, e o que José Malhoa gostava de dar eram geniais pinceladas, com a mestria que só um predestinado como ele sabia.
A 12ª Exposição da Sociedade Promotora das Belas-Artes
Assim o dito interregno haveria de ser curto e em 1880 já nosso conterrâneo aparecia em destaque na 12ª Exposição da Sociedade Promotora das Belas-Artes em Portugal, juntamente com outros futuros nomes grandes da pintura nacional, entre os quais Silva Porto.
Nessa exposição a temática e perícia técnica das pinturas apresentadas por José Malhoa reservou-lhe a conquista da medalha de Bronze, num Salão que viu surgiu uma nova corrente artística na pintura portuguesa, o Naturalismo, e do qual Malhoa viria a ser um dos seu maiores embaixadores … na nossa opinião foi o maior!
Daí em diante foi um caminho em ascensão até ao triunfo final com todo o reconhecimento pelas suas geniais qualidades artísticas.
Grupo do Leão…
Foi um dos membros fundadores do Grupo do Leão (1881-1889), um grupo de artistas que se reunia na Cervejaria Leão de Ouro, e que contava, para além do nosso José Malhoa, com Silva Porto, e mais tarde com o também nosso Rafael Bordalo Pinheiro e o seu irmão Columbano, entre outros.
O Grupo do Leão promoveu 8 exposições na década de 80 do século XIX, ficando imortalizado para sempre numa pintura a óleo de Columbino Bordalo Pinheiro, de 1885, pintura que decorou durante alguns anos a referida cervejaria e que pode hoje ser contemplada no Museu do Chiado, em Lisboa.
Artista ativo e reconhecido, em 1890 seria também um dos sócios fundadores do Grémio Artístico (1891 a 1899), tendo José Malhoa participado nos diversos Salões promovidos pelo Grémio.
Foi ainda eleito presidente de honra da Sociedade Nacional de Belas-Artes, por ocasião da fundação da instituição em 1900.
Reconhecidas as suas enormes competências, foi recebendo algumas encomendas desde 1881 e começou a retratar figuras públicas entre as quais o também nosso Rei D. Carlos I, em 1905 (pintura exposta no Palácio dos Duques de Bragança em Vila Viçosa) e o infante D. Manuel, em 1908, que sucederia a D. Carlos no trono em sequência ao Regicídio de 1908. No caso do retrato do último monarca nacional, a pintura pode ser contemplada cá na nossa terra pois faz parte da coleção permanente do Museu José Malhoa.
Reconhecimento Internacional
Se é unânime que José Malhoa é um dos melhores executantes da pintura nacional, é importante salientar que o seu reconhecimento foi também distinguido além-fronteiras.
Também a título internacional José Malhoa haveria de alcançar o merecido destaque conquistando Medalhas de Ouro em Barcelona e Buenos Aires (1910), Medalhas de Prata na Exposição Internacional de Berlim (1896), na Exposição Universal de Paris (1900) e na Exposição Geral de Belas-Artes de Madrid (1901). Esta última mereceu uma referência do nosso Rafael Bordalo Pinheiro nas páginas d’A Paródia, onde salienta os “altos méritos do pintor Malhoa“.
Recebeu ainda Medalhas de Honra em Exposições Internacionais no Rio de Janeiro (1908) e Panamá-Pacífico (S. Francisco 1915), só para referir alguns dos méritos conquistados lá fora.
A reaproximação às Caldas
A verdade é que depois de sair de Caldas da Rainha, ainda em criança, José Malhoa não manteve daí em diante uma relação muito próxima com a sua terra natal, sendo habitual a sua presença não apenas em Lisboa mas também e cada vez com mais frequência em Figueiró dos Vinhos, para onde começou a deslocar-se em 1883, onde inclusivamente haveria de construir casa, onde encontrou motivos para muitas das suas obras e onde acabaria por falecer em 1934.
No entanto, porque José Malhoa é cá da terra e merece o nosso reconhecimento, em 1926, por intermédio de António Montês, José Malhoa é convidado a produzir um quadro sobre as Caldas, pedido ao qual o artista respondeu com a oferta do incontornável Retrato da Rainha D. Leonor, em 13 de Junho de 1926 e que pode ser visto e revisto em todo o seu esplendor na Sala Malhoa do Museu José Malhoa.
A cidade de Malhoa
Esta reaproximação de Malhoa às Caldas teria novos contornos já que o mesmo António Montês colocar-lhe-ia a hipótese de se poder criar por cá um Museu dedicado ao artista, tendo mesmo promovido a criação da Liga dos Amigos do Museu Malhoa com esse objetivo.
Em Setembro de 1928 foi inaugurado um busto em sua homenagem, uma iniciativa que contou com a colaboração da Comissão de Iniciativa de Caldas da Rainha (1924-1936), e que pode hoje ser contemplado do Museu José Malhoa.
Fruto do seu génio artístico, Malhoa foi alvo de diversas homenagens e tributos ao longo da sua vida em agradecimento e reconhecimento ao seu mérito e talento e teve a oportunidade de ver ser aprovada a construção do Museu José Malhoa a 17 de Junho de 1933.
José Malhoa viria a falecer a 26 de Outubro de 1933 e não assistiria à inauguração do Museu, a 28 de Abril de 1934, data escolhida em sua homenagem já que celebraria o seu 79º aniversário.
Não há dúvidas que se trata de uma figura importante e que merece todas as homenagens e agradecimentos
BIBLIOGRAFIA:
Henriques, Paulo (1997), José Malhoa, Lisboa, Círculo de Leitores
Couto, Matilde Tomaz do (2005), Malhoa e Bordalo: Confluências de uma geração, Lisboa, Instituto Português dos Museus