Rodrigo Berquó O visionário das Caldas
Um dos mais importantes contributos para a história de Caldas da Rainha foi aquele protagonizado por Rodrigo Maria Berquó (1839-1896), que ocupou o cargo de administrador do Hospital Termal (daí Rodrigo Berquó o homem das Águas), entre 1888 e 1896, e simultaneamente o de presidente da Câmara Municipal, entre 1890 e 1891.
Berquó nasceu a 1 de Janeiro de 1839, filho de D. Maria Teresa Caldas (terá sido uma premonição?), e de D. João Maria Berquó, Marquês de Cantagalo, título atribuído por D. Pedro I do Brasil e que Rodrigo herdaria. Falta apenas acrescentar que o clã Berquó era ainda composto pelos sete irmãos de Rodrigo.
Não se sabe ao certo onde terá nascido, se no Brasil se em Portugal, uma vez que o pai fez parte da Corte de D. João VI que viajou para o Brasil, tendo mais tarde servido também D. Pedro I do Brasil.
A formação de Rodrigo Berquó
Formado em arquitetura/engenharia, foi esse o motivo da sua vinda para a nossa terra.
Sabe-se também que Berquó frequentou os locais por onde circulava a elite nacional, como Cascais, Caldas da Rainha ou Sintra, onde se dedicava a atividades variadas como a tauromaquia, uma atividade com tradição nas Caldas, à música componente sempre importante das mais diversas celebrações ou ao tiro, atividade que faria parte da programação lúdica das Caldas nos anos seguintes.
As suas apetências desportivas valeram-lhe a designação de sportsman, muito em voga na época para adjetivar aqueles que se destacavam pela suas facetas atléticas e desportivas.
Mas Berquó destacava-se também pelas suas qualidades de anfitrião e de bom conviva, característica que também se verificaria nas suas passagens pelas Caldas quer antes quer depois de ter sido nomeado administrador do Hospital.
Era um homem multifacetado podemos dizê-lo!
Rodrigo Berquó o homem das Águas
A sua nomeação para o cargo de administrador do “nosso” Hospital Termal teve como finalidade colocar em prática o chamado Plano de Melhoramentos, aprovado em 1884, e cujo objectivo era modernizar o complexo termal e assim contrariar as limitações e insuficiências que ali se iam fazendo sentir, sobretudo num período em que as termas estavam na moda e eram procuradas por cada vez mais gente, sendo Caldas da Rainha nesse período, arriscamos a dizer e com orgulho, um dos senão o melhor exemplo em território nacional, a “Rainha das Termas” como se dizia na época.
Este ambicioso plano de intervenções tinha em Berquó um administrador que, pela primeira vez na história da gestão do nosso Hospital, não era médico mas sim arquiteto e que contava inclusivamente já com experiência na administração termal, em Caldas de Felgueira, no distrito de Viseu, entre 1882 e 1888.
As ideias, as convicções e a determinação no trabalho levaram-no a idealizar um plano ainda mais ambicioso e complexo, não sem que contasse com alguma contestação sobretudo em virtude das diferenças que existiam entre as duas forças de poder local, o Hospital Termal e a Câmara Municipal.
De pensamento prático, de forma a poder satisfazer algumas das suas ideias, concorreu com sucesso à presidência da Câmara Municipal conseguindo administrar durante um ano ambas as instituições.
Nos oito anos em que trabalhou na nossa terra Berquó fez remodelações em todo o complexo termal (Hospital Termal, Mata, Pavilhões do Parque, Parque D. Carlos I, Clube de Recreio, Palácio Real (hoje Museu do Hospital e das Caldas), Casa da Convalescença e Casa dos Administradores), modernizando-o, ampliando-o e tornando-o mais eficaz, funcional e esteticamente atraente.
As obras de Rodrigo Berquó
Mas não se ficou pelo património termal e tentou envolver outros aspectos, onde se inclui a rua que contorna o Hospital e cuja toponímia atualmente homenageia o próprio Berquó.
Numa época em que a higiene e saúde pública ditavam regras, promoveu também várias medidas de combate à falta de salubridade e higiene da então ainda vila das Caldas da Rainha onde se destacam as construções, com projetos próprios, do Hospital de Santo Isidoro (inaugurado em 1893 e que hoje corresponde a parte do complexo da ESAD.CR) e do Matadouro (inaugurado em 1894 e que hoje corresponde ao Centro da Juventude) e interveio ainda nas redes de esgotos e abastecimento de água potável.
Outras obras ambicionou fazer mas por questões financeiras, ou por não conseguir reunir o apoio das elites locais, acabaram por não se realizar, nomeadamente equipamentos culturais como uma nova Praça de Touros e um Teatro.
Todas estas medidas tinham como objetivo equiparar Caldas da Rainha às estâncias mais prestigiadas da Europa, algumas das quais visitadas pelo próprio Berquó.
Este destacou-se ainda pelo seu lado solidário e filantropo, doando dinheiro ou adquirindo equipamentos para o hospital e investindo na formação dos recursos humanos hospitalares para os quais criou uma escola, extravasando dessa forma o âmbito profissional que o trouxe até à vila.
Fruto da sua personalidade adepta da convivência e sociabilidade contribui também para animar as elites locais, fazendo-se valer os seu dotes de barítono, clarinetista e de ator com os quais participava ativamente na animação local e pontualmente convidava amigos ilustres que ajudavam a enriquecer as festas da vila.
O amigo “Carlos” e o seu “peso” Bordalo…
O seu trabalho na vila foi reconhecido pelo Rei D. Carlos, que o distinguiu com o título Oficialato de S. Tiago em 1892 e com a Comenda da Ordem de S. Tiago no ano seguinte.
Todavia a sua determinação e convicção fizeram com que fosse criticado pela comunidade local, sobretudo a elite, sendo inclusivamente inúmeras vezes satirizado por Rafael Bordalo Pinheiro, que entre outros “mimos” o apelidou de Moisés das Águas Frescas a propósito do abastecimento do lago do Parque.
Apesar das críticas e da obra inacabada, em virtude da sua prematura morte em 1896, Berquó contribuiu com as suas ideias para fazer da nossa terra uma estância termal que pudesse ombrear com as suas congéneres estrangeiras mais prestigiadas.
Resistiu, não sem dificuldade, a todas as pressões e críticas de que foi alvo e tentou fazer da então vila de Caldas da Rainha um dos principais complexos termais nacionais, urbanisticamente ordenado e recreativamente rico e diversificado.
O legado da sua obra nos anos seguintes foi sobretudo visível na afirmação do Parque D. Carlos I como principal pólo dinamizador das atividades lúdicas e socais da estância já que a sua outra grande ambição e grande projeto acabou por não se concretizar, os Pavilhões do Parque, visto nunca terem sido utilizados para a finalidade para a qual foram projetados.
No centenário da sua morte em 1996 foi realizada uma exposição de homenagem e foi colocada uma placa de homenagem no Parque D. Carlos I, salientando uma das mais importantes figuras da nossa terra e que convidamos todos os interessados a vir conhecer melhor com a GoCaldas.
BIBLIOGRAFIA:
Mangorrinha, Jorge (1996) (Coord), Rodrigo Berquó Cantagalo (1839-1896): arquitecto das termas. Caldas da Rainha, Centro Hospitalar das Caldas da Rainhas;
Mangorrinha, Jorge (2000), O lugar das termas: Património e desenvolvimento regional. As estâncias termais da região Oeste, Lisboa, Livros Horizonte;